Porto Belo, 16 de Agosto de 1986,
Querido,
Conhecê-lo é amá-lo. Olhos claros que não dizem nada, mas que mostram tanto. Para os meus ouvidos sua voz é suave e seu sorriso, sincero. Parece sempre estar tão descansado que me faz o querer mais a cada instante. Quero seu corpo macio, sua boca adocicada e os quero todos aqui. Proteger em meus braços os teus sonhos castos. Ser imperfeito, incerto e livre.
Agora que conheci minha liberdade e minha cadeia, escolhi a cela na qual quero morrer todos as noites. É a ti que desejo, é de ti que sinto falta todas as manhãs. Aquele espaço vazio na minha cama lhe cabe tão bem. O calor que não existe em minha carne é o seu. O vazio em algum lugar aqui dentro que tanto me faz suspirar tem lugar guardado com seu nome.
Hoje conheço minha libertinagem e minha cela. Meus grilhões são seus, os tome, tome em suas mãos tudo que é meu. O sonho é novo todas as tardes e morre quando não lhe vejo. Passar minhas palmas nas tuas, sentir roçar nossos dedos sem os entrelaçar. Apertar-lhe forte o corpo contra o meu e beijar-lhe o rosto de menino. Fechar os olhos e me deixar perder nesses cachos e ondas de um dourado profundo, quase negro. Acordar todas as manhãs antes do sol nascer e admirar-lhe nu, recostado em mim.
Quero amar-lhe tanto que não lhe peço em troca o mesmo amor novamente. Já não sei onde está, mas sei que tem a quem encantar. Peço-lhe para ouvir-me quando sozinho estiver. Lembra-se da minha voz e do meu sorriso, leve-os consigo, saiba que lhe quero bem. Meu eterno homem e minha eterna brandura.
Do seu,
Olívio.