sábado, 27 de agosto de 2011

4:20

Ouço novas vozes em horizontes renovados. Abrir as portas da percepção e recriar-se.
Alimento tenro do qual sorvo cada gota, universos inteiros em minha boca.
Fruto maduro,
traz-me lembranças de noites mais argênteas.

Agora cores e galhos. Agora áspero e quente.
Escorre pelo rosto, para a garganta, para mim. Cálido.
Corre lentamente e sobe, expiro minha liberdade,

inspiro
pura
poesia

sábado, 13 de agosto de 2011

Turquesa

Sinto a ausência do teu corpo. Uso de minhas palavras para rebuscar tão vil desejo. Sinto falta de tua pele quente a roçar em meu peito. Sinto muito pela inexistência agora de teus olhos perdidos, ardendo e me observando, presa ou predador.

Sinto a ausência dos detalhes sobre a tua pele, os quais memorizei todos. Estão tatuados em mim, inevitavelmente. Jamais estarei contigo novamente, sei disso, mas isso não impede o meu cismar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Viagem de Théspis

"A última palavra é a que fica, a última palavra é a palavra do poeta.
As últimas palavras de Goëthe: 'Deixem entrar a luz'..."

domingo, 10 de julho de 2011

Noite abençoada

Guardo em mim, hoje, grande e inevitável paixão.
Amor calmo e tranquilo, mas não menos arrebatador do que um turbilhão que num único rompante quebra todos os alicerces. Perco o jeito, esqueço a fala, não sei onde colocar as mãos; procuro bolsos, cruzo os braços... Não sei.
Uma admiração profunda, um carinho inenarrável.
Escondo-me, entretanto; talvez por covardia, mas nunca neguei ser adepto da fuga adiantada e do escape repentino.
Escondo-me pois assim é mais confortável para mim. Daqui de onde estou posso me dar aos luxos do amor, um amor não correspondido que me faz tão bem.
Não desejei nunca, por mais de um segundo, tê-la para mim. Espírito livre que é, sua beleza reside na leveza.
E quem diz que não a tenho é louco ou idiota. Olhei seu rosto o bastante para imprimi-lo em minha memória e assim, alegremente, pego-me a recordar de suas feições de vez em quando. Ando remoçando, cantando sem saber por quê.
Todos deveriam, ao menos uma vez em suas vidas, ter um amor assim. Algo tranquilo, sadio, forte e inegável. Um rosto belo e amado para se lembrar de vez em quando, para trazer mais luzes para um dia cinzento.
Um carinho fraternal que se lhe faz melhor por vê-la e vê-la sorrir.

Ainda preciso descobrir o jeito natural, a fala neutra e onde colocar as mãos. Só isso.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

20/06

Busquei durante muito tempo a experiência da palavra. Precisei os sentidos e emoções que me despertavam.
Estudei seu silêncio e quis despi-las de toda subjetividade. Busquei a palavra suprema e não a encontrei.
Apresenta-se agora a mim o teatro, eu me entrego a ele. O Teatro como força unificadora de tudo o que sou (e que opto abandonar).
Sinto agora o silêncio e a palavra do corpo. Mecanismo-corpo, corpo-instrumento. Saudação livre de um universo que descubro agora.
Ao longo de minha rotina diária dou-me mais ao calar, como natural exercício de consciência, um novo olhar para o mundo. Querer precisar a ressonância de minha voz. Significar em todo som - ou nas ausências deles.
A relação do vazio me encanta.
Descorporizar os membros do espaço (no espaço).
Ver o gesto pequeno, a ligação cega entre o todo que cerca o tudo. A beleza de show minimalista grandioso.
Suspeito de tudo que se move e do que se esconde além do estático.
Forma, não-disforme, força de realidade.
É momento de morrer, limpar o corpo de meus maneirismos, buscar o essencial dessa nova ferramenta na qual todo eu-mesmo se aprisiona.
A palavra agora pode esperar mais um trago ou gole, ou olhar; hei de livrar-me dela, abandonar-me dela, integrar o som puro para, só então, reintegrá-la, já mais simples e estreita. Palavra nua, corpo nu. Essencial.

domingo, 1 de maio de 2011

Seguindo os conselhos de minha falecida esposa.

"- Abra as janelas, deixe entrar um pouco de sol..."
"- Por que?"
"- Fechar-me nesse abafamento só há de me fazer mal... Agora abra as janelas, depressa."
"- Tudo bem. O que te incomoda?"
"- Nada, apenas quero ficar um pouco ao sol, bronzear-me um bocadinho... Quero estirar na grama do quintal e ficar abobado, assistindo as nuvens se mover até que meus olhos doam. Sentir as leves cócegas que o mato faz sobre a minha pele quando essa brisa quente bate. Profundamente inspirar e encher-me do cheiro da terra, ser um com ela. Com as palmas das mãos acariciar as ervas, os ramos, a relva e notar, como sempre, que uma força ancestral me renova e devolve todo o carinho e energia que lhe entrego. Daí então me encolher, deixar que as moitas cerradas me escondam. Cobrir-me com essa manta verde, poderosa e pura. Esticar o braço e tocar o tronco das árvores ao meu redor, sentir sua aspereza familiar sob minhas mãos e sua vida fluir das raízes até as folhas, e então, pelas pontas dos meus dedos, para dentro de mim. Chorar um pouco e deixar que um rio me lave, secar-me ao sol sobre as pedras quentes e confiar em seu amparo, esse ânimo de presença paterna que me trazem as rochas. Ser filho de Deus, ser um com o que me cerca, desaparecer na relva, renascer um fauno, ser caçador de mim."
"- Nunca antes conheci um homem que guardasse tamanha escuridão e sofresse tão lancinante dor."
"- Como?"
"- Almeja a clareza, o que está na escuridão. Deseja a leveza,  aquele que carrega pesado fardo. O homem ferido, busca a regeneração. Só agora vejo e percebo o seu desespero, agora entendo a razão que te leva sempre a cismar tantas horas. Pobre homem..."
"- ... Não se esqueça de trazer-me, hoje à tarde, o chá..."
"- Sim, meu senhor."

quinta-feira, 10 de março de 2011

Quilhas

Espero ainda a brisa,
O sopro que assoma e
um pássaro que vem vestido
de água e lentidão.

As pedras frias da encosta
me assoalham os pés, as águas raivosas
lambem as rochas e me gritam canções
de angústia e tragédia.

Sento-me, um farol enraizado na
rocha crua. Olhos morteiros que
miram embarcações etéreas.

Sonho de esferas azuis sobre uma paisagem
esfíngica. Areias e escuras marés,
sombria ausência enche-me o corpo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Prosa

Abre essa porta, deixa eu entrar,
Daqui eu não saio até você me escutar.
Tenho tanta coisa guardada no peito,
Não tenho mais medo, perdi todo o receio,
de lhe dizer que eu não te esqueci, que te tenho comigo, eterna em mim.
Mulher de tantas façanhas.

Não lhe tenho mais nenhum um sopro de dor,
Não lhe alimento mais qualquer amor,
Só tenho um desejo louco de lhe ver e saber,
Que a tua vida é melhor sem mim,
Homem de pequenos sonhos.

Fostes de todas a melhor, e a pior também,
Deixaste-me ali de maneira tão simples,
cheio de promessas e tanto dissabor,
Uma ferida, um sorriso e um calor
De quem desespera da vida.

Mas hoje lhe bato a porta,
não é pra me queixar, ou lhe culpar.
Venho lhe trazer essa coroa de cravos,
para comemorar teu fúnebre parto,
que lhe leva pra longe daqui.

Pode levar nas malas, tudo que lhe dei,
Nada quero de volta, já que tudo deixei,
Quando me resolvi por querer-me melhor,
Quando me achei me amando também,
Assim que me percebi eu também merecedor
de uma nova luz, um grande amor, um bem querer
um me quer bem, daqueles que enche a gente de calor.

Pode sair, vá que já vais tarde,
Hoje eu sorri tão branco puro,
Tão mais certo de toda a verdade,
Um clarim, um perfume, um carinho e uma rosa,
A mesa do café, a manteiga, a prosa preguiçosa,
Em meu peito amanheceu uma saudade,
Toda letra gasta para você,
Jogue tudo fora, que é para esquecer,
Me encontrei dentro de mim, fora de ti,
E lhe digo vazio de metades,
Que donde era vaidade, já me tenho amor de verdade.